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  • Foto do escritorTropicália Viva

Tropicalistas na TV - 15 histórias sobre o programa "Divino Maravilhoso"



Com o enorme burburinho sobre o movimento, os tropicalistas tiveram o seu próprio programa de televisão em 1968.

O programa se chamava "Divino Maravilhoso" e ficou no ar por menos de três meses.

Infelizmente, todas as gravações foram destruídas, mas relembramos quinze histórias que aconteceram durante o período conhecido como o maior happening da televisão brasileira.

Divulgação do programa nos jornais da época. Foto: Reprodução



O PROGRAMA INICIALMENTE SERIA NA RECORD


Caetano Veloso e Gilberto Gil chegaram a ser contratados pela Record após o icônico Festival de 67, naquele tempo era comum que os artistas da música tivessem seus próprios programas de televisão.

Elis Regina e Jair Rodrigues faziam grande sucesso com "O Fino da Bossa", enquanto Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa apresentavam o "Jovens Tardes". Todos esses programas aconteciam na Record.


Elis e Jair no programa "O Fino da Bossa". Foto: Divulgação


Inicialmente, os tropicalistas queriam Zé Celso Martinez Corrêa na direção e a emissora recusou. Caetano e Gil decidiram rescindir o contrato com a Record e apresentaram o formato para outras emissoras.

A Tupi, televisão mais antiga do Brasil e sem nenhuma experiência em programas musicais, gostou do formato apresentado e foi a responsável por exibir o Divino Maravilhoso.



O NOME DO PROGRAMA


"Banana especial", "É Proibido Proibir", e "Bouquet de Melodia" foram alguns nomes sugeridos para o programa.

"Divino Maravilhoso" veio do bordão do empresário tropicalista Guilherme Araújo que costumava elogiar o que ele gostava adjetivando de "Divino! Maravilhoso! Internacional!".


Guilherme Araújo, o responsável pelo nome. Foto: Acervo Estadão


O nome também se popularizou por outra via: a voz de Gal Costa a partir da canção de Gil e Caetano.


A CANÇÃO NA CONCORRÊNCIA


Gal Costa apresentou a canção "Divino Maravilhoso" no IV Festival da Música Popular Brasileira, que acontecia na Record no mesmo período em que o programa dos tropicalistas era exibido Tupi.

Não era necessário ser contratado da emissora dos festivais para apresentar sua música. Com a performance poderosa e explosiva de Gal Costa, acompanhada pelo coro de Ivete e Arlete e do grupo Os Bichos, a canção conseguiu ficar entre as três melhores colocadas.


Gal interpretando "Divino, Maravilhoso" no Festival


O termo "Divino, Maravilhoso" caiu na boca do povo e a música se tornou a principal faixa do LP Gal Costa de 1969.

Apesar da canção ser homônima ao programa, ela não era tema de abertura, em cada edição o maestro Rogério Duprat fazia uma abertura diferente acompanhado dos Mutantes.


OS BASTIDORES


A estreia aconteceu no dia 28 de outubro de 1968 e passaria todas as segundas-feiras às 21h. O programa antecedia o famoso noticiário Repórter Esso.


Tropicalistas em cena. Foto: Divulgação


As gravações aconteciam no Teatro Sumaré em São Paulo, conhecido como o berço da televisão da brasileira. Filas enormes se formaram para a estreia com pessoas vestidas à la tropicalistas.


Digitalização: Caetano en Detalle


A direção do programa acabou nas mãos do gigante Cassiano Gabus Mendes e a produção com Fernando Faro e Antonio Abujamra.

Os cenário mudavam a cada programa, de acordo com as temáticas abordadas.


O ELENCO E OS CONVIDADOS


O programa era apresentado oficialmente por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Os Mutantes, e Jorge Ben. Mais tarde, Tom Zé se uniu ao elenco fixo.

De pé: Jorge Ben, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee e Gal Costa. Agachados estão Sérgio Dias e Arnaldo Baptista.

Foto: Reprodução


Ali, Jorge Ben passou a vestir mais que o oficialmente a camisa do tropicalismo, apesar de não ter participado do disco-manifesto.

O programa também contou com um time de convidados identificados com o movimento. Participaram Jards Macalé, Juca Chaves, Nara Leão e Paulinho da Viola.


Juca Chaves participa do programa. Foto: Reprodução


OS FIGURINOS


Fantasias, brilhos, cores, plumas e até ausências de roupas estavam entre os figurinos dos tropicalistas.

Alguns padrões se repetiam, como o de Gal sempre com enormes plumas e Jorge Ben Jor com roupas apertadíssimas.

Gal no palco do "Divino Maravilhoso" Foto: Reprodução


Caetano usou figurinos parecidos com de Gal Costa, o que levou a uma explosão das chamadas roupas unissex. Quando não estava parecido com ela, estava com uma camisa aberta e peito descoberto.

Rita Lee chegou a ir de bailarina circense, de dama aristocrata, enquanto os meninos dos Mutantes usavam roupas típicas de outros países, como a famosa roupa de toureiro espanhol.

Gil geralmente vestia batas orientais, se inspirou desde Jesus até o imperador etiópio Haile Selassie. Tom Zé geralmente vestia um colete por cima e por baixo uma blusa de cor forte com colares pendurados.


SAUDOSISMO - O PRIMEIRO NÚMERO


Sem a existência de vídeos do programa, fica por conta da nossa imaginação como aconteceu o primeiro numero do Divino Maravilhoso.

Caetano entrou sem camisa, mas com um echarpe no pescoço cantando "Saudosismo", canção feita em homenagem a João Gilberto e gravada por Gal no seu álbum tropicalista.

O público não esperava a calmaria da bossa nova de cara, mas a canção toda foi entoada com a tranquilidade original até o final, quando Caetano rasgou a voz gritando "Chega de Saudade" repetidas vezes e Os Mutantes invadiram o palco com suas guitarras e berros levando o público ao delírio.

Os Mutantes e suas guitarras arrepiando o programa Foto: Reprodução


A PLANTAÇÃO DE BANANEIRAS


Famosas nas apresentações da Boate Sucata, Caetano Veloso passou a plantar bananeiras no palco do programa.

Caetano plantando bananeiras. Foto: tropicalia.com.br


Observado por Gal e acompanhado por Gilberto Gil que cantava, rodopiava e dançava enquanto o outro tropicalista ficava de ponta-cabeça e terminava seu número deitado no chão.


O PROGRAMA NAS GAIOLAS


Um programa com os tropicalistas presos em gaiolas foi um dos mais impactantes do semanal. Os Mutantes estavam presos juntos, enquanto Gal, Gil e Tom Zé tinham gaiolas individuais. Jorge Ben Jor estava preso ao teto como um pássaro enjaulado e só no final aparecia Caetano cantando "Um leão está solto nas ruas" de Roberto Carlos e convocava o elenco a se libertar e quebrar as grades, que na verdade eram feitas de uma madeira fina pintadas parecendo ferro.

A plateia delirava!

Um Leão Solto Nas Ruas - Canção que inspirou o número


A SANTA CEIA E GIL COMO JESUS CRISTO


Inspirados no filme espanhol "Viridiana" do diretor Luis Buñuel, uma santa ceia foi encenada no palco do programa.

Cena de "Viridiana" que inspirou o ato. Foto: Reprodução do filme


Gilberto Gil era Jesus Cristo e os tropicalistas faziam os apóstolos, dentre os homens tinham duas mulheres encarnando o papel: Rita Lee e Gal Costa.

Ao invés de pão e vinho, eles jogavam bananas na plateia.

A fruta que se tornou símbolo do movimento foi vista como uma heresia, assim como toda a encenação, para a ala católica mais fervorosa da sociedade.

Centenas de cartas com reclamações chegaram na caixa da TV Tupi.


O ENTERRO DO TROPICALISMO


Uma orquestra comandada por Rogério Duprat e vestida com roupas informais tocava Beethovenn, enquanto Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias eram os mestres de cerimônia do enterro do Tropicália.

No palco, uma flâmula com os dizeres "Aqui jaz o tropicalismo" servia de cenário.

As carpideiras choravam a morte do movimento em uma encenação ao vivo no palco. O tropicalismo estava morto?


A imprensa repercutia o programa semanalmente. Foto: Reprodução


SEBASTIANA E O TRIO NORDESTINO


Gal Costa vestida com um imenso robe azul com plumas interpretava a canção "Sebastiana" de Jackson do Pandeiro, enquanto Gil tocava sanfona (primeiro instrumento que dominou) e Tom Zé completava o trio nordestino ao lado de Jorge Ben Jor.

A homenagem dirigida também a Luiz Gonzaga rendeu aplausos e gritos da plateia. Imagine como seria esse registro em vídeo.

A canção entrou no álbum tropicalista de Gal.


O AI-5


No dia 13 de dezembro de 1968, em plena sexta-feira, os ditadores baixavam o ato institucional mais duro da história do país.

O decreto que dava plenos e podres poderes ao general de cassar direitos políticos e institucionalizou a censura foi a gota d'água para que Caetano Veloso e Gilberto Gil fossem presos quinze dias depois da promulgação do AI-5.


Ficha de prisão de Caetano Veloso Foto: Arquivo Nacional


Jô Soares, então contratado da Record, teve acesso a uma lista de artistas que seriam chamados para prestar depoimento e avisou aos perseguidos. Ninguém imaginava que essa intimação fosse render uma prisão arbitrária.

Relatos contam que as fitas do programa foram queimadas para não comprometer os envolvidos.


EU PENSEI QUE TODO MUNDO FOSSE FILHO DE PAPAI NOEL


Dois dias antes do Natal e quatro dias antes da prisão, Caetano Veloso interpretou o mais pesado número do programa.

Com um revólver apontado para a cabeça e para o público, o tropicalista interpretou a canção "Boas Festas" de Assis Valente chocando os presentes.

As câmeras focavam no busto do cantor para tentar esconder a arma.


Em 1996, Caetano voltou a gravar a canção ao lado de Gil para o projeto World Crhistmas.


AS "FAKE NEWS"


Caetano Veloso e Gilberto Gil foram presos e o programa continuou no ar por três semanas sob o comando de Tom Zé.

Tom Zé topou o difícil desafio e o programa chegou a contar a presença de Marlene, respeitada intérprete brasileira.

Alguns veículos apontavam que o pesado número natalino teria sido o motivo do afastamento dos tropicalistas.

Outros diziam que eles estavam tirando férias na Guanabara e haviam abandonado o movimento. Os militares haviam raspado os marcantes cabelos de Caetano e Gil e a censura prévia obrigava os veículos a darem a noticia como um ato voluntário de ambos por indicações médicas.

Jornais da época procuravam justificar o sumiço de Caetano e Gil. Digitalização: Caetano en detalle


O programa "Divino Maravilhoso" teve grande audiência nas semanas em que fora exibido e provavelmente continuaria se dependesse do público. As pessoas invadiam o palco ao término das gravações.

Infelizmente, o banquete tropicalista foi encerrado pela truculência dos ditadores, mas as memórias estão vivas para serem contadas.

É preciso estar atento e forte! Ditadura nunca mais!


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