Tropicália Viva
A importância do prato-e-faca na música e uma lista de artistas que o utiliza em seu ofício
A live de Caetano Veloso foi um tremendo sucesso e rendeu muitos comentários nas redes sociais. Dentre os assuntos mais falados estava o uso do prato-e-faca por Moreno Veloso.

Moreno toca prato-e-faca na live do seu pai. Foto: Reprodução (Globoplay)
Para quem conhece a obra de Caetano, o uso do instrumento advindo do samba de roda não é nenhuma novidade.
Quem abria o álbum "Araçá Azul" de 1972 era a marcante voz de Edith Oliveira acompanhada do seu prato, ela é ninguém menos que Edith do Prato, uma das mais famosas sambadeiras do Recôncavo baiano.
No atualíssimo show "Ofertório", Moreno Veloso toca prato em diversos momentos com destaque para a faixa "How Beautiful Could A Being Be", onde Caetano samba com o filho, assim como fez na apresentação do Globoplay.
Infelizmente, algumas pessoas fizeram piada e uma grande revista de música chegou a dizer que o momento seria um improviso pela falta de instrumentos.
Caetano, obviamente, não gostou da maneira desrespeitosa com que o instrumento ancestral foi tratado e resolveu explicar em um vídeo, postado nas redes sociais, a importância do prato-e-faca na música.
O músico Marcelo Costa também protestou contra a publicação e respondeu com um vídeo, onde toca o seu prato-e-faca.
Vídeo: Reprodução/Instagram
A Tropicália Viva conversou com a pesquisadora, cantora e sambadeira Rafaela Mustafá que nos indicou grandes artistas que usam o prato-e-faca no ofício.
Rafaela fala que não só o samba, mas diversas manifestações musicais aqui do Brasil partem do labor e da cozinha.
"Muitas das mulheres do Samba de Roda são descendentes de mulheres escravizadas, que tinham como sua atividade de labor a cozinha e por tanto, utilizavam desses instrumentos para tirar algum som.
Também podemos pensar que os utensílios de cozinha, podiam ser escondidos mais fácil, já que os "batuques" eram proibidos pelos escravizadores e capatazes" diz Rafaela Mustafa.

Dona Zélia do Prato, uma das maiores referências vivas no
prato-e-faca. Foto: Juliana Faria/Divulgação
O Dossiê do Samba de Roda produzido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico(IPHAN) diz que o idiofone mais característico do samba de roda é o prato-e-faca.
Também tocado por homens como Bule-Bule, o instrumento é predominante usado pelas mulheres. O documento fala que, em regra geral, a tocadora fica de pé para usar o instrumento e nem sempre precisa está próxima dos outros tocadores.

Bule-bule é um dos mestres que utilizam o prato-e-faca no seu samba. Foto: Reprodução
Conheça agora mais artistas que utilizam o prato-e-faca no seu ofício:
DONA EDITH DO PRATO

Contracapa do álbum de Dona Edith do Prato, que teve a participação de Caetano Veloso. Foto: Divulgação
Natural de Santo Amaro da Purificação, Dona Edith do Prato foi a mais conhecida referência de prato-e-faca no Brasil.
Abriu o álbum "Araçá Azul" de Caetano Veloso e participou do disco "Ciclo" ao lado da conterrânea Maria Bethânia.
Em 2002, lançou o álbum "Vozes da Purificação".
Dona Edith nos deixou em 2009, mas sua voz e seu prato-e-faca são uma imensa referência para os sambistas da atualidade.
No vídeo, do documentário "O Cinema Falado", Dona Edith do Prato interpreta "Viola Meu Bem".
JOÃO DA BAIANA

Prato pintado e utilizado por João da Baiana, dessa vez usando uma vara de madeira ao invés da faca. Foto: Museu da Imagem e do Som
O grande compositor, cantor e ritmista carioca João da Baiana ficou famoso por suas canções e pelo uso do pandeiro e do prato-e-faca nelas.
De família de tias baianas, como eram conhecidas as senhoras quituteiras e barraqueiras vindas do Recôncavo da Bahia no Rio de Janeiro, João popularizou o prato-e-faca nas rádios cariocas na década de 1920.
Na década de 1930 participou do grupo "A Velha Guarda" ao lado de Donga e Pixinguinha. Outra grande contribuição do sambista na música brasileira é o álbum "Gente da Antiga" feito em parceria com Clementina de Jesus e Pixinguinha.
João da Baiana morreu aos 86 anos em 1974.
No vídeo, extraído do documentário "Saravah" de 1969, João da Baiana toca o seu prato acompanhado de Baden Powell.
MESTRA AURINDA DO PRATO
Ialorixá e sambadeira da Ilha de Itaparica em Salvador, Dona Aurinda do Prato cresceu nas rodas com o irmão, o grande capoeirista sambista Mestre Gerson Quadrado.
Atuou no ofício de lavadeira, baiana de acarajé, marisqueira e encontrou no prato-e-faca sua forma de fazer arte.
Aos 86 anos, Mestra Aurinda ainda hoje recebe de portas abertas todas as pessoas interessadas em conhecer mais do samba chula e da arte de tocar prato.
Em 2018, ela recebeu o Prêmio das Culturas Populares.
No vídeo, Mestra Aurinda do Prato conta algumas de suas histórias e apresenta suas canções.
MARIENE DE CASTRO

Mariene de Castro tocando prato-e-faca. Foto: Reprodução/G1
Mariene de Castro, uma das maiores estrelas da música brasileira atual, traz suas matrizes no seu canto e no seu toque.
Mariene já fez vocal de apoio da Timbalada,foi vocalista do Cortejo Afro e deslanchou na sua carreira solo.
No seu registro "Santo de Casa", no pout-pourri de Nené, Mariene toca prato-e-faca ao lado de Dona Rita da Barquinha e Dona Nicinha de Santo Amaro da Purificação. O vídeo soma mais de um milhão de visualização nas redes.
RAFAELA MUSTAFA
Cantora, instrumentista e pesquisadora, a jovem sambadeira Rafaela Mustafa conta que sempre ouviu muito samba e frequentava rodas com os amigos,e que apesar de ser um momento forte em energia, sentia certo incômodo ao frequentar rodas de samba compostas por uma totalidade de músicos homens.
A partir dessas experiências, ela aprofundou sua pesquisa no papel feminino no samba, sobretudo no samba de roda do Recôncavo baiano.
A paixão ficou cada vez mais forte a partir da vivência com as sambadeiras, Rafaela entendeu que aquele era o melhor jeito de aprender.
Hoje, Rafaella Mustafa é integrante do grupo "Samba do Vai Kem Ké".
"Sou apaixonada por samba de roda e quero poder ser ferramenta para a manutenção dessa manifestação" conta Rafaela.
No vídeo, Rafaella Mustafa toca prato-e-faca com a Mestra Aurinda do Prato.
Agradecemos a todas as sambadeiras e todos os mestres que fazem do prato-e-faca instrumento da nossa cultura. Viva a música brasileira